sexta-feira, 3 de agosto de 2012

MALEDICÊNCIA


    Toda pessoa não suficientemente realizada em si mesma tem a instintiva tendência de falar mal dos outros. Qual a razão última dessa mania de maledicência? É um complexo de inferioridade unido a um desejo de superioridade. Diminuir o valor dos outros dá-nos a grta ilusão de aumentar o nosso valor próprio.
A imensa maioria dos homens não está em condições de medir o seu valor por si mesmo. Necessita medir o seu próprio valor pelo desvalor dos outros. Esses homens julgam necessário apagar as luzes alheias a fim de fazerem brilhar mais intensamente a sua própria luz.
        São como vagalumes que não podem luzir senão por entre as trevas da noite, porque a luz das suas lanternas fosfóreas é muito fraca. Quem tem bastante luz própria não necessita apagar ou diminuir as luzes dos outros para poder brilhar. Quem tem valor real em si mesmo não necessita medir o seu valor pelo desvalor dos outros. Quem tem vigorosa saúde espiritual não necessita chamar de doentes os outros para gozar a consciência da sua saúde própria.
        As nossas reuniões sociais, os nossos bate-papos são, em geral, academias de maledicência. Falar mal das pessoas, das coisas alheias é um prazer tão sutil e sedutor – algo parecido com uísque, gin ou cocaína – que uma pessoa de saúde moral precária facilmente sucumbe a essa epidemia.
        A palavra é instrumento valioso para o intercâmbio entre os homens. Ela, porém, nem sempre tem sido utilizada devidamente.
        Poucos são os homens que se valem desse precioso recurso para construir esperanças, balsamizar dores e traçar rotas seguras.
        Fala-se muito por falar, para “matar tempo”. A palavra, não poucas vezes, converte-se em estilete da impiedade, em lâmina da maledicência e em bisturi da revolta.
        Semelhantes a gotas de luz, as boas palavras dirigem conflitos e resolvem dificuldades. Falando, espíritos missionários reformularam os alicerces do pensamento humano.
        Guerras e planos de paz sofrem poderosa influência da palavra. Há quem pronuncie palavras doces, com lábios encharcados pelo fel. Há aqueles que falam  meigamente, cheios de ira e ódio. São enfermos em demorado processo de reajuste. Portanto, cabe às pessoas lúcidas e de bom senso não dar ensejo para que o veneno da maledicência se alastre, infelicitando e destruindo vidas.
Pense nisso!
Desculpemos a fragilidade alheia, lembrando-nos das nossas próprias fraquezas. Evitemos a censura.
A maledicência começa na palavra do reprove inoportuno.
Se desejamos educar, reparar erros, não os abordemos estando o responsável ausente. Toda a palavra torpe, como qualquer censura contumaz, faz-se hábito negativo que culmina por envilecer o caráter de quem com isso se compraz.
Enriqueçamos o coração de maor e banhemos a mente com as luzes da misericórdia divina. Porque, de acordo com o Evalgelho de Lucas, “a boca fala do que está cheio o coração”.



(Texto extraído do livro A Essência da Amizade de Humberto Rohden. Editora Martin Claret, e publicado no Jornal de Umbanda Sagrada. Edição 146 - Julho de 2012)

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